Manuel Rufino de Souza, Rufino do Beiru ou Rufino Bom do Pó (30 de Junho de 1915 - 04 de Maio de 1982) famoso Babalorixá do Candomblé de Salvador, Bahia, que privou da amizade e respeito de muitos Babàs e Iyàs de seu tempo, sendo parte da história do Candomblé.
Seu primeiro Terreiro, da Liberdade, foi covardemente invadido no auge da repressão ao Candomblé pelo Batalhão há 17 de fevereiro de 1941 "A Tarde, 18/2/1941, p. 2.", tendo mais tarde transferido seu Ilé Asè para a atual Rua Pernambuco, quando compra propriedade de Dona Maria Genoveva do Bonfim - Dona Maria Neném no bairro do Beiru, onde seu nome e fama se amalgamaram a tal ponto que o mesmo passou a ser conhecido por Rufino do Beiru, sendo sua Raiz também assim popularmente conhecida
Manoel Rufino de Souza era filho de santo de Miguel Arcanjo de Souza (1840 - 16 de Maio de 1941) Miguel Arcanjo de Xangô, Massaganga de Kariolé da nação Tapuiá - extinta por falta de anotações dos antigos, Raiz das mais antigas do Candomblé Baiano, nascida da miscigenação das culturas Bantu e Yoruba, remontando a meados do Século XVIII, (também conhecidos como Candomblé de caboclo ou Angola de Caboclo).
Miguel Arcanjo - Massanganga foi fundador da Nação Amburaxó que preservou esta tradição de congregar em seu seio a miscigenação cultural adquirida nos Quilombos e Sanzalas.
Falecido no ano de 1941, aos 81 anos de idade, deixou como Herdeiras legítimas de suas terras, Caetana Angélica de Souza e Guilhermina Angélica de Souza e como herdeiro do cargo de pai-de-santo ficou o seu filho-de-santo Manoel Jacinto, irmão de santo de Sr. Rufino.
Miguel Arcanjo foi primeiro morador do bairro Beiru, que leva o nome de um negro escravizado, comprado pela família Hélio Silva Garcia.
Manuel Rufino de Souza, foi o fundador do Ilé Asè Tomin Bocum; iniciado que foi pelo Sr. Miguel Arcanjo para o Orisà Osún Opará, Deusa desta Raiz, seguiu a tradição de seu Zelador em iniciar dentro das Culturas Bantu e Yoruba tendo filhos iniciados de Nkisi e Orisà que perpetuam sua Raiz.
O Pó a que se refere o título também chamado de Zorra era preparado com raízes, folhas, e muitos ingredientes próprios para feitiço, a receita só era conhecida pelos mais velhos, não ensinavam para ninguém, muitos babalorixás ficaram famosos por serem Bom no Pó ou Bom de Pó.
Sr. Rufino foi fotografado por Pierre Verger entre 1946-1950 sendo alguns destes registros preservados pela Fundação Pierre Verger, Salvador, Bahia.
Sr. Rufino foi membro e certamente um dos fundadores da FEBACAB, criada em 24 de novembro de 1946, e atual Federação Nacional do Culto Afro Brasileiro FENACAB. Uma das homenagens ao governador Roberto Santos, após a assinatura do decreto que retirou a necessidade do candomblé pedir licença à Delegacia de Jogos e Costumes para realizar seus rituais em 1976, aconteceu no Terreiro de Rufino, o Ilê Tomin Bokum.
O Arquivo do Jornal A Tarde mantém algumas curiosas matérias que refletem a importância do Sr. Rufino no cenário do Candomblé de Salvador... Entre estes entrevista datada de 01/06/1979 Caderno 1, Fl 14.
O Sr Rufino deixou sete filhos e sua esposa Dona Reuzilha Vitória Farias, são estes: Srs Roque Rufino de Souza (in memoriam), José Carlos Rufino(in memoriam), Dilza Souza Santos, Eunice Souza Santos, Pedro Rufino de Souza, Ogã Antônio Rufino de Souza (Oloye do Ilé Asè Tomim Bokum) e Iyà Nadivalda de Souza Lima (filha de santo de Maria Escolástica da Conceição Nazaré, Mãe Menininha do Ganthois), que ainda hoje Zelam pelo Ilé Asè Tomim Bokum.
Deixou vários filhos de santo como as três irmãs Donas Dilma, Rosinha D'Oxum - Oxuguemin e Rosalia Taitanguê; VANJÚ DE OXUN OPARÁ , Ogam Betinho, Pai Bobó,Tata Tuninho de Lemba, Manoel de Oxum Sete de Abril, Gilberto de Oxaguian, Mundinho, EDNA CARVALHO DE ODÉ, Iya Nilza da Oxum, Lídio de Itaparica(BA), Jorge Imbiaassy, Valdice T´Oxum Caixa d'Água #Salvador#, Walter ti Oxóssi, Mirinho da Oshum, Quendeburo, Utalangê, Sinval de Xangô, Iya Matamba, Walter de Oya .
Notícia publicada no Jornal do Beiru
Publicada no primeiro número do jornal, lançado em novembro de 2002
A história do Beiru se confunde com a história dos cultos afro, terreiros e, principalmente, com a história do seu primeiro morador – Miguel Arcanjo. Beiru foi um negro escravizado, comprado pela família Hélio Silva Garcia. Ele herdou as terras antes pertencentes aos seus donos, hoje equivalente a área ocupada pelo Beiru, que gira em torno de 1 milhão de metros quadrados de área.
Essas terras, após a morte de Beiru, voltaram à posse da mesma família de origem, já que “Preto Beiru” como era chamado, não tinha herdeiros libertos. Os Hélio Silva Garcia, em gratidão a Beiru, resolveram homenagear-lhe dando o nome Beiru à sua fazenda, como consta na escritura da fazenda datada do final do século XIX.
As terras foram então vendidas a Miguel Arcanjo, primeiro residente da área. Anos mais tarde ele viria a fundar um terreiro de candomblé no local onde situava-se a casa grande da Fazenda Beiru. A venda das terras datam de 1910. Foi assim que nasceu em 1912 a Nação de Amburaxó, na área conhecida como Jaqueira da Cebolinha, que atualmente dá nome ao Largo do Anjo-mau.
A Nação de Amburaxó, fundada por Miguel Arcanjo, que também era o pai-de-santo, se diferia dos demais terreiros por ter uma doutrina mais aberta. “Era mais fácil de aprender”, diz o filho-de-santo Eldon Araújo Laje, conhecido como Jijio, do Terreiro Insumbo Meian (Vila São Roque), localizado no Largo do Anjo-mau. Essa Nação se diferenciava das demais, como a Nação de Angola, a Nação Quêto, da Nação Jêji e da Nação Banto, entre outras coisas porque todos os seus cultos eram realizados do lado de fora, aos pés das árvores sagradas, que até hoje existem no espaço que circunda o posto médico e a 11a. Delegacia.
É dessa linha do candomblé que Miguel Arcanjo vai formar seus discípulos e que mais tarde disputarão as terras do bairro: Miguel Rufino, Olga Santos (morena) e Pedro “duas cabeças” que criaram seus terreiros independentes.
Depois de formados seus discípulos, já sabedores da Doutrina amburaxó – pouco difundida, Miguel arcanjo Morre, em 1941, aos 81 anos de idade, vítima de um câncer de próstata. A sua morte se deu na casa de seus filhos-de-santo Cazuza e Morena. Deixou como Herdeiras legítimas de suas terras, Caetana Angélica de Souza e Guilhermina Angélica de Souza. Como herdeiro do cargo de pai-de-santo ficou o seu filho-de-santo Manoel Jacinto.
Um pouco antes de falecer, Miguel Arcanjo adquiriu alguns pedaços de terra, entre esses ao Senhor José Evangelista de Souza (seu Cazuza). Esta área ia até o atual fim de linha do Tancredo Neves. Seu Cazuza se casaria, posteriormente, com uma irmã-de-santo Olga Santos (Morena). Após a morte de “Seu Cazuza”, seus filhos tentaram impedir que se cumprisse uma promessa feita por ele a Obaluaiê, que certa feita o salvou de uma picada de cobra e também era o guia de Morena. Na área prometida ao santo para a fundação do seu terreiro. Foi neste espaço que morena, agora mãe de santo, fundou o terreiro Insumbo Meian (encontro de Obaluaiê com as águas doces) na Baixa do Cabula, hoje situado, próximo ao Largo do Anjo-mau, cujo filho-de-santo Eldon, responsável por uma pesquisa para formação de um acervo com a história do Bairro, revitaliza a cultura negra. Após a morte de Mãe-Morena, o cargo passou para Nair Oliveira de Souza (Oju Oyá), filha de seu Cazuza, e logo depois foi empossada Juciara Oliveira de Souza Brito (Yatomin), primeira mãe-de-santo eleita com a sua sucessora ainda em vida, lançando um processo de escolha totalmente novo e mais democrático, evitando disputas.
Entre os anos de 1938 e 1944, Miguel Arcanjo de Souza moveu uma ação de despejo contra Manoel Cyriaco, que não vinha pagando seus honorários das terras arrendadas.
O caso só foi resolvido anos mais tarde com a expedição de mandato de reintegração de posse das terras. Após tantas disputas, em 1979, o então governador do Estado da Bahia, Antônio Carlos Magalhães resolveu desapropriar todos os herdeiros das terras do Beiru, tirando a posse de todas as terras em detrimento da instalação de um projeto de urbanização da área. Foram entregues, simbolicamente, cerca de 600 títulos de doação de terreno referentes ao projeto, o que mereceu a manchete “Moradores do Beiru receberam terrenos em clima de festa”, veiculado no Correio da Bahia em 18 de Dezembro de 1980. Cerca de seis anos depois o então Governador da Bahia, João Durval, implantou o projeto que beneficiaria cerca de 80 mil moradores o projeto Beiru, que visava a urbanização, viabilizando a melhoria das moradias, do acesso, infraestrutura, saneamento, o que daria ao Tancredo Neves sua atual configuração.